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QUALQUER UM PODE SER PROGENITOR: PENSAMENTOS SOBRE SER PAI


Nunca chamei papá a ninguém.

 

Há alguns anos, um amigo meu disse-me: “Jorge, eu estou sempre a orar, mas não sinto que tenha uma ligação com Deus. Acho que não tenho um relacionamento com Ele.”

 

“Já pensaste em referir-te a Deus como Abba?” Respondi eu.

 

Mais tarde, nessa noite, enquanto orava, o Espírito Santo trouxe-me à memória a nossa conversa. Mas, desta vez, a pergunta estava a ser feita para mim. Incapaz de seguir o meu próprio conselho, comecei a minha oração com “Pai do Céu”. 

 

A minha mãe é uma mulher dominicana forte, uma sobrevivente do cancro e uma guerreira de oração. Ela fez um trabalho incrível ao criar três filhos (de idades muito próximas) sozinha, a trabalhar frequentemente em dois empregos para sustentar a nossa família. Crescer num lar monoparental não era estranho para mim. Muitos dos meus amigos partilhavam esta experiência, mas nunca ninguém falava sobre isso.

 

Quando era criança, eu via a série “Good Times” e pensava: “Sei que a nossa família está a sentir falta do James, mas a Flo está a fazer um trabalho tão bom que, mesmo sem ele, os Evans estariam bem.”

 

Não, não tínhamos dinheiro para comprar o mais recente aparelho de jogos, o meu brinquedo mais sofisticado era uma bicicleta usada que recebi como prenda de aniversário. Os paus eram os nossos tacos e as pedras as nossas bolas. Os caixotes vermelhos serviam de cestos de basquetebol e jogar a apanhar berlindes era o nosso passatempo favorito. Arroz, sardinhas e ovos estrelados eram pratos fáceis de cozinhar para a minha mãe, água com açúcar era o nosso “refrigerante”. E aqueles grandes blocos de queijo do governo eram os melhores. 

 

Apesar de sermos pobres, não nos faltava nada. Nós, os Rosários, estávamos bem. O facto de ter um pai ausente passou a ser uma questão secundária. 

 

 

Qualquer um pode ser progenitor, mas as crianças precisam de pais. 

 

Avançando para o presente. Sou pai de três belos rapazes, com 11, 14 e 15 anos. Eles são uma alegria para a minha alma.

 

Mas uma coisa de que me apercebi é que não faço a mínima ideia de como ser pai. Acordo quase todos os dias e arrependo-me de algo que fiz ou deixei de fazer no dia anterior enquanto pai. É exaustivo pensar em todas as vezes que tive de pedir desculpa aos meus filhos pelas minhas insuficiências como pai. (Graças a Deus, tenho a mulher mais incrível do mundo!).

 

Sendo um pai jovem, dei por mim em inúmeras situações em que precisava de orientação ou de sabedoria de uma figura paterna, mas apenas tinha mulheres fortes a quem recorrer, como a minha mãe.  Os pais da televisão eram fantásticos, mas eu não podia telefonar-lhes. Não podia consultar na minha cabeça os conselhos do meu próprio pai quando os meus filhos me abordavam sobre uma rapariga que lhes tinha partido o coração, uma confusão em que se tinham metido porque a sua “masculinidade” tinha sido posta em causa, ou qualquer outra coisa que me perguntassem. 

 

Apercebi-me do quanto os meus filhos precisam de um pai. Mas não apenas um progenitor – qualquer pessoa pode ser um progenitor – os meus rapazes precisavam do pai. Durante todos estes anos, eu precisava do pai. 

 

 

O Perdão: o grande reconciliador.

 

Eu conheci o meu pai há 11 anos. Curiosamente, chamo-lhe “Pops”. Tem sido um verdadeiro privilégio tê-lo na minha vida. Eu adoro o “Pops”. Foi bom descobrir os nossos interesses em comum como a música salsa, em jogar dominó e até as nossas opiniões semelhantes sobre a religião e a igreja. 

 

Mas foi transformador vê-lo ser vulnerável ao partilhar os seus remorsos por não ter estado nas nossas vidas. Achei natural identificar-me com ele quando falou dos seus fracassos e defeitos e libertei-me de qualquer ressentimento persistente. A sua vontade de partilhar as suas fraquezas atraiu-me. Agora temos uma ótima relação e, por vezes, até lhe peço conselhos...  o que é muito bom.

 

Parte de ser pai é mostrar aos filhos que a perfeição não é um fardo que tenhamos de carregar. Já tive muitas alterações verbais com os meus filhos, muitas vezes incitando-os à raiva. Agora reconheço que, nesses momentos, tenho duas opções: Posso permitir que o meu orgulho ou a minha necessidade de respeito construam um muro entre nós, ou posso ver os meus erros como oportunidades para lhes ensinar que os pedidos de desculpa quebram barreiras, que a graça é poderosa e que o perdão é redentor. 

 

 

Quebrar Barreiras.

 

Quando pedimos desculpa aos nossos filhos, ensinamo-los a ir contra os seus instintos naturais de orgulho. Mostramos-lhes que o facto de sermos a sua figura de autoridade não nos impede de nos humilharmos, de pedirmos desculpa e de nos reconciliarmos com eles. Eles vêem-nos fracos e vulneráveis, o que faz com que os muros construídos com base no orgulho e no ego caiam por terra.

 

 

A Graça é Poderosa.

 

Os nossos pedidos de desculpa dão aos nossos filhos a oportunidade de praticar a graça. Mais uma vez, esta não é uma resposta natural ao facto de serem magoados ou ofendidos, pelo que têm de recorrer à sua fonte de energia. É profundamente impactante ver os nossos filhos a operar no poder do Espírito e a oferecer graça ao seu pai imperfeito. Essa graça permite-nos sair de debaixo do jugo da perfeição e encoraja os nossos filhos a não nos idolatrarem, enquanto apontamos continuamente para Jesus – o único perfeito (ver João 1:14).

 

 

O Perdão é Redentor.

 

Quando pedimos desculpas sinceras aos nossos filhos, é mais fácil para eles perdoarem as nossas ofensas. Este perdão não só destrói o muro de hostilidade entre nós, como redime uma relação outrora quebrada. O perdão é um poço profundo de cura, do qual podemos continuar a tirar proveito infinitamente. 

 

Disponibilizo-me diariamente para os meus filhos e isso deixa-me vulnerável. Os meus encontros com eles são muitas vezes repletos de riso e diversão, mas também podem ser confusos e repletos de erros e más escolhas. No final do dia, lembro aos meus filhos que são amados e que estou aqui para eles.

 

E todas as noites, antes de se deitarem, os meus filhos dizem: “Boa noite papá”. Adoro ouvir essa palavra e, até hoje, ela enche-me de alegria. 

 

Eu erro muito nesta "coisa" de ser pai e não ganhei o direito de ser chamado de papá. Estou a aprender que os meus filhos me chamam pai não porque eu acerte sempre, mas porque eles conhecem o meu verdadeiro eu e sentem-se seguros ao fazê-lo. 

 

Quanto à minha própria jornada com a palavra pai... acordo todas as manhãs e digo: “Bom dia, Abba. Hoje preciso de ti.”


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Jorge Rosário trabalha como especialista de serviços na equipa da FamilyLife. Nada no mundo lhe dá mais alegria do que ser um filho do Deus vivo. Jorge é casado com a sua namorada do liceu e a rapariga mais bonita do mundo, Rosemarie, e é o pai orgulhoso de três obras de arte, os seus filhos: Angel, Jordan e Jaiden. 

 

Artigo Original aqui.

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