“Eu sinto-me culpado por isso todos os dias”, disse ele à multidão, um pouco sufocado pelas suas próprias palavras.
O grupo de jovens da igreja ficou cativado pela vulnerabilidade do Blake.
O Blake parecia ser um miúdo normal do liceu: boas notas, jogador de futebol e que vinha de um bom lar. Mas este jovem rapaz em particular estava, obviamente, atormentado pela culpa.
“Eu vi-o ser gozado todos os dias”, disse ele, “e eu não fiz nada para o impedir”.
O Blake continuou a partilhar sobre como eles os dois costumavam ser bons amigos. Eles andaram na mesma escola, saíam no intervalo, e iam às festas de aniversário um do outro.
Mas depois chegou o 3º ciclo. No 3º ciclo somos julgados pelas pessoas com quem convivemos, e o amigo do Blake estava definitivamente no lado nerd. Os novos amigos do futebol do Blake repararam nisto e começaram a gozar com ele.
“Ele é teu amigo?”
“Porque é que andas com ele?”
Então o Blake cortou a sua amizade com o seu amigo.
Esta situação deu uma reviravolta para pior. No secundário, os amigos atléticos do Blake começaram a lançar insultos regularmente ao seu velho amigo, durante o almoço ou durante a aula de educação física. O Blake nunca respondeu. Ele simplesmente observava em silêncio.
O Blake confessou que ele ainda conseguia ver a expressão do seu amigo. Ele era assombrado por essa imagem.
Quando ouvi a história do Blake, eu estremeci, porque eu conhecia muito bem a história.
O velho amigo do Blake era o meu filho.
Intervenção de Pares
O Blake nunca foi um agressor. Ele era a definição de dicionário de um espectador, alguém que observa, mas que não faz nada. A maior parte dos universitários de hoje, caem nesta categoria.
Mas os espectadores magoam os outros da mesma maneira. É um pecado de omissão. Eles sabem que provavelmente deveriam fazer alguma coisa, mas não fazem.
Nós temos de equipar os espectadores para defenderem os miúdos que são vítimas de bullying. Eu acredito firmemente que os jovens são a cura para o bullying. Eu falo com jovens em inúmeros eventos, encorajando-os e equipando-os para acabarem com a agressão logo desde o início.
Os espectadores não precisam de esperar. Eles têm de se erguer e fazer alguma coisa.
Quando os espectadores se levantam e fazem alguma coisa, significa que está a haver intervenção de pares. Eu uso o termo intervenção de pares porque estas duas palavras tornaram-se palavras-chave nas pesquisas sobre bullying à medida que os investigadores se aperceberam da diferença que um miúdo pode fazer.
Nós podemos ajudar os nossos filhos a fazer um verdadeiro avanço no combate ao bullying ensinando-lhes os 5Rs:
- Recognize (Reconhecer os efeitos do bullying)
Uma pesquisa recente revelou que o aumento do tempo de ecrã está a matar lentamente a empatia. Quanto mais as pessoas olham para os ecrãs e comunicam através deles, mais socialmente prejudicados se tornam. Nós precisamos ajudar os jovens a olharem para cima dos seus ecrãs, repararem nos outros, e a pensarem para além do seu pequeno mundo.
Sempre que falo com jovens sobre bullying, eu conto sempre muitas histórias. Histórias ajudam-nos a olhar além da nossa perspetiva e ver através dos olhos dos outros. As histórias cultivam compaixão e empatia.
Os pais e professores podem sensibilizar os jovens ao falarem sobre os efeitos do bullying e ao partilharem histórias que ajudem os jovens a considerarem a perspetiva de outros. Muitos que são espectadores, nunca pararam para pensar nas consequências de se rirem de alguém, provocando-os... ou ficar a ver e não fazer nada.
- Realize (Perceber que tu podes ter um grande impacto)
Um miúdo pode fazer uma grande diferença. A sério. Apenas um.
Inúmeros estudos mostram que um amigo é suficiente para prevenir o deslize para a depressão.
Um relatório no jornal Development and Psychopathology revelou que, “Apenas um amigo é suficiente para proteger uma criança ansiosa e retraída contra a depressão. E não precisa necessariamente de ser um amigo chegado em particular – íntimo ou confidente, como um adulto entenderia, mas apenas uma espécie de ligação social com alguém da sua idade.”
Temos de ajudar os nossos filhos a perceberem o quão poderosos podem ser os seus simples atos de amizade.
Talvez um colega dá um passo e diz, “Ei, isso não está certo.” Ou se isso é demasiado arriscado, talvez ele se aproxima da vítima mais tarde e diz, “Gostarias de conversar?” Estes gestos simples são de longe os mais eficazes para ajudar aqueles que sofrem de bullying.
- Resolve (Decidir não intimidar os outros)
Maior parte dos movimentos começam com uma decisão, um compromisso, uma determinação. Eu penso em Daniel na Bíblia quando ele foi arrancado da segurança do seu lar e atirado para um mundo cheio de tentações. Ele tomou uma decisão, um compromisso. Ele “tomou a resolução de se manter fiel” (Daniel 1:8).
Sempre que eu falo com os jovens de hoje, eu dou-lhes a oportunidade de fazerem um compromisso público. Uma coisa é ser movido por compaixão. O compromisso põe pés nesses sentimentos.
Compaixão sem ação não é nada.
A determinação é a decisão para agir. O que nos leva a ações específicas que os miúdos podem tomar...
- Refuse (Recusar-se a participar)
Uma das ações mais importantes em que as crianças se podem envolver é ao não se envolverem.
Os espectadores têm a capacidade e responsabilidade de evitarem quaisquer comportamentos que reforcem os agressores, deitando os outros abaixo. Os agressores gostam de atenção e de afirmação. Não lhes dês nenhum.
Por isso, ajuda os espectadores a aprenderem a evitar o seguinte:
. Rir de piadas à custa dos outros
. Dar ouvidos a rumores, fofocas, ou discursos de ódio de qualquer pessoa
. Estar fisicamente ao lado de um grupo que está a gozar ou a coscuvilhar sobre outros.
Recusar-se a participar nem sempre implica falar ou dizer, “Ei, isto não é certo.” Por vezes os espectadores podem afastar-se, ou na sala podem simplesmente manter a atenção no trabalho da escola.
Se os agressores não receberem nenhuma atenção ou afirmação para o seu mau comportamento, eles normalmente param com esse comportamento.
- Reach out (Estende a mão a alguém que esteja a sofrer ou sozinho)
O melhor conselho sobre bullying que eu alguma vez ouvi vem da carta de Paulo aos Filipenses na Bíblia:
“Não façam nada por ambição pessoal nem por orgulho, mas, com humildade, considerem os outros superiores a vós próprios. Que ninguém procure apenas o seu interesse, mas também o dos outros. Tenham os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.” (Filipenses 2:3-5)
Consegues imaginar se toda a gente vivesse de facto este conselho? Poderíamos, sem dúvida, reduzir o bullying! É incrível o que simples atos de carinho podem fazer. Mas estes atos são raros. Os miúdos só querem saber do “meu!” Coloca duas fatias de bolo para duas crianças e as duas vão agarrar o maior pedaço. É invulgar encontrar um miúdo que genuinamente oferece a maior fatia ao seu irmão ou irmã.
Na escola é a mesma coisa. As crianças normalmente valorizam o eu acima dos outros, e não o contrário.
Mas esta geração de jovens quer de facto fazer alguma coisa e fazer a diferença. Muitas vezes, simplesmente não sabem como. É uma tensão interessante. São egocêntricos, mas querem ajudar os outros. Por vezes um adulto atencioso pode ajudar a conectar os pontos ao mostrar como se vai do A para o B.
Como é que iria parecer se convidasse aquele miúdo estranho para sair depois da escola... sabendo perfeitamente que poderia ser estranho?
Passagens como aquela em Filipenses 2 são impactantes à medida que ensinamos os nossos miúdos a estenderem a mão. Ser humilde. Procurar os interesses dos outros. Este é o modelo de Jesus.
Mostrar humildade e valorizar os outros acima do eu são conceitos que os miúdos não passam muito tempo a pensar, mas ficarás surpreendido com a forma como as crianças se elevam quando lhes é dada a oportunidade de demonstrarem esses valores.
Os espectadores não têm apenas de esperar. Um amigo faz mesmo a diferença.
Excerto de The Bullying Breakthroug, direitos de autor © 2018 por Jonathan Mckee. Utilizado com a permissão de Shiloh Run Press, uma impressão de Barbour Publishing, Inc.
Artigo Original aqui.
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